Brasileiro está desrespeitando mais as regras de trânsito.
“Toda indústria, para existir, precisa de insumos. O mesmo se dá com a chamada ‘indústria da multa’, e seu insumo é a infração de trânsito. Pois bem: o que existe, realmente, é uma indústria gigantesca de infrações de trânsito”. A frase dita por Sérgio Avelleda (Coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Insper), na sua coluna na revista Piauí, ilustra bem a realidade que ocorre hoje no Brasil.
Sim, as multas cresceram no país, principalmente em 2022. Mas, isso é reflexo do aumento expressivo de infrações cometidas pelos motoristas. Para se ter uma ideia, segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), quando comparado agosto de 2022 com o mesmo período de 2021, houve um aumento de 86,9%. Ou seja, na prática, foram cerca de 2 milhões a mais de multas (2021 – 2.422.07 / 2022 – 4.528.513).
O mais impressionante destes dados é que dirigir em velocidade acima da máxima permitida em até 20% é a principal infração. Dessa forma, foram 1.657.891 penalidades aplicadas por esse motivo. Em seguida vem avançar o sinal vermelho, velocidade acima da máxima permitida de 20% a 50% e não usar cinto de segurança. Estacionar o veículo em locais proibidos conforme o que estabelece a legislação, como placas ou estacionamentos rotativos, esteve em quinto lugar nesse período. Aqui, vale destacar, que o Auto de Infração é dado pelo agente de trânsito municipal. E não pela empresa que administra o rotativo, como a Rek Parking.
Uso de Celular
Outro dado preocupante é o uso de aparelho celular enquanto dirige. Um relatório divulgado em março de 2022, pelo Registro Nacional de Infração de Trânsito (Renainf), apontou essa como a quinta principal causa de penalidades em 2021. Neste sentido, foram 28 autos de infração por hora com esse motivo. Totalizando 246.438. O estado de São Paulo puxou essa triste estatística, com cerca de 37%.
Já em 2022 os números foram ainda piores. Dados do Detran SP mostram que nos primeiros seis meses do ano houve um aumente de 160% em relação ao anterior. Em outras palavras, isso significa quase 86.500 multas a mais por uso do celular no estado. Quando avaliada apenas a capital, São Paulo, esse tipo de infração correspondeu a 77% dos autos lavrados.
Infelizmente, atualmente, o uso de celular já configura entre a terceira maior causa de mortes no trânsito brasileiro. O perigo é tão real que a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou um estudo sobre. Segundo eles, isso aumenta em 400% a chance de acidente já que diminui o tempo de reação. Bem como, dificulta o condutor a manter o carro na pista e na distância de segurança.
Mais fiscalização
Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária, 90% dos acidentes no Brasil são por falha humana. Ou seja, erro do motorista. E, muitos deles, acabam em mortes. Segundo a ONU, 13 milhões de pessoas irão perder a vida no trânsito até 2030 em todo o mundo. Inclusive, a organização tem um plano de combate global. Saiba mais em O que pode ser feito em prol de um trânsito mais seguro.
Uma das formas de diminuir esses dados é aumentando a fiscalização. Em outras palavras, mais vigilância e mais autos de infração. Por exemplo, no Pará, os 182 equipamentos de controle de velocidade registraram quase 788 mil infrações em 2022. Sendo que em 2021 os números foram 600.969. O mesmo aconteceu em Curitiba, os 300 radares foram os deflagradores do aumento expressivo do ano passado.
Aqui podemos voltar na frase do início “o que existe, realmente, é uma indústria gigantesca de infrações de trânsito”. As multas não aumentaram porque temos mais radares nas ruas, elas aumentaram porque mais motoristas estão desrespeitando as regras. Os controladores de velocidade não são o inimigo aqui, mas sim a imprudência de quem está no volante.